" A cada dia que vivo, mais me convenço de que o disperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade." (Carlos Drummond de Andrade)




terça-feira, 5 de abril de 2011

Ontem .

 Parada. Cansada. Pensativa.
 Quem não fica assim, pelo menos alguns instantes de um dia, não sabe o que é viver.
 Contemplando uma sala vazia, peguei-me a idealizar um futuro distante e, só então, descobri que meus sonhos são metas razoáveis; e que de sonhos não tinham nada.
 Como é possível viver assim? Pensando em demasia, guiando meus atos pela razão e privando-me daquilo que me faça fujir da realidade? Para ser honesta não sei. Sei apenas que meus devaneios isolúveis são pretextos infundáveis para uma vida repleta de reflexões e mísera de contravenções.
 Não forme uma conclusão sobre mim após ler essa breve síntese - pois nem eu creio que possa chegar a um ponto final. Jamais pressuponha que uma identidade, seja ela qual for, possa ser compactada ou mesmo ser compartilhada sem sofrer alterações relevantes - principalmente quando estas vêm do próprio autor.
 O que posso dissernir hoje, com clareza, é que meu intrigante humor oscilante cria novas consepções para elementos já existentes. Minhas humildes opiniões sobre a minha existência e suas derivações são tão mutavéis quanto minhas escolhas diárias.
 Abidicar de rompantes heróicos não é ser fraco, talvez seja um modo de munir-se de coragem para verdadeiras bravuras.
 Nunca irei saber se vivo da maneira correta. Afinal, partindo princípio de que não há manual de conduta prepétua sobre a vida terrena, posso dizer que minhas variações são irrefutávelmente singulares e que não há maneira mais graciosa de citar que não sei nada sobre mim do que afirmando que não sei como viver..

quinta-feira, 24 de março de 2011

Situações .

 Às vezes me pergunto qual a razão das coisas acontecerem de maneiras tão inexplicáveis.

 Eu acredito fielmente no destino, que há sim algo já definido para nós, mas que alteramos nossos fins a partir de nossas escolhas. O engraçado é quando tudo acontece de um modo onde as coisas mais banais viram complicações fenômenais.
 Em um momento estamos nós com nossos questionamentos baseados em fundamentos prováveis, no momento seguinte as resoluções aparecem e nos deparamos com o que já previamos. Qual a parte engraçada? O cômico fica na resposta fornecida para nós. Muitas vezes, o que mais desejamos é justamente não ter nossas confirmações, saber que estamos equivocados pode ser menos indolor ou, no mínimo, soar melhor.

Porém, se algumas coisas aparecem para complicar, outras surgem para revigorar. Um exemplo? Bem, lá estava eu, sentada no último vagão de um trem. Confusa. Pensando se meus valores eram ríspidos demais ou se os outros é que perderam os seus, de repende o celular toca. Alguns gatos pingados que estavam dentro do vagão me encomodavam -  era a única mulher ali e já havia passado das onze da noite. Mas de certa maneira eu conseguia sorrir depois de atender. Difícil de dizer a razão pelas quais nossas emoções podem mutar tão rapidamente. Fiquei calma, mas com as mãos suando frio. Ofegante. Meu coração saltava mais que ginástas em dia de competição. Tudo o que era vazio se inundou de proteção e meu medo havia ficado na outra estação.
  O que aprendi foi que cada situação serve para fazermos sofrer reações e que, compreender o que a reação nos transmite, é enteder a nós próprios..

sexta-feira, 18 de março de 2011

Noite .

A lua é o marco dos apaixonados. Para mim é um vínculo com o algo mais.

Quando olho para o céu lembro de tudo e, talvez, de todos. Quando olho para a noite e a imensidão do vago, meus sentimentos mais escondidos explodem como uma bomba.
 Não é incrível poder declarar o quanto se é sucetível aos pequenos fragmentos do mundo real?
 Poucos acreditam que podemos ficar perto de quem gostamos sem utilizar da tecnologia, eu discordo. Uma vez disse para meu amigo que, sempre que ele sentisse minha falta, erguesse a mão na direção da lua, levantasse o dedo polegar e fechasse um olho. Porque não importaria onde nós estivéssemos, a lua sempre seria menor que nossos dedos, da mesma maneira que eu sempre estaria lá junto à ele.
 A magnitude do simples está em ser indescritível e singular.  

domingo, 13 de março de 2011

Que dia !

Quantas vezes você resolveu que modificaria todos seus hábitos e no dia seguinte acabou desistindo? Ok, fazemos isso muito - e principalmente quando mentimos para nós mesmos na virada do ano. Mas resolvi modificar, elaborar uma dia diferente. Radicalizei. Depois de 6 anos, voltei a andar de roller - local: Gasômetro. A última vez que subi em cima de rodas que não fossem a de um carro ou a de uma moto foi quando arrebentei meu joelho no skate e após alguns meses fui atropelada enquanto andava de bicicleta - agora entendem porque demorei todo esse tempo.

 Enfim, mas meu dia não foi apenas curtir aquela brisa gostosa no rosto, foi muito mais, foi repleto de pequenos momentos extremamente significantes. Começemos pelo dia. Um dia maravilhoso, como de costume o céu parecia sorrir para mim.
  
Quando parei para descansar em frente à quadra de basquete - meu lugar predileto -, contemplei um jogo de futebol entre meninos descalços. A felicidade deles era tão encorajadora que quem assistia vibrava junto à eles. Esses mesmos meninos que antes haviam entrada no guaíba para tomar banho.

 Mesmo sendo incomum para muitos, curtir o dia sozinho pode trazer um bem inimaginável para nosso coração. Ficar em paz com a gente é mais difícil do que se possa idealizar. Refletir sobre a vida pode transmutar nossa vibe.


Perder o foco de você não quer dizer não encontrar seu eixo central, mas ampliar seus horizontes para observar seus arredores. E isso é uma forma de compreensão existencial.

terça-feira, 8 de março de 2011

Sandy - Clipe Pés Cansados


 Confesso que não tinha escutado nenhuma das canções da Sandy após sua divulgação de carreira solo, mas curti algumas e, em especial, deste clipe. A direção de fotografia é uma aula de arte e de bom gosto, o clipe ficou limpo e a música agradável. Preciso dizer que ainda há poucas vozes que transmitam sentimentos sem esforços e, sem dúvidas, Sandy soube utilizar do dom que nasceu para encantar mais uma vez.

Uma homenagem .

MULHER, SUA ORIGEM E SEU FIM


Luís Fernando Veríssimo

Existem várias lendas sobre a origem da Mulher. Uma diz que Deus pôs primeiro homem a dormir -- inaugurando assim a anestesia geral -- tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher. E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor enquanto ele convalescia da operação.

Uma variante desta lenda diz que Deus, com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas, pensando "Depois eu melhoro", e mais tarde, com o tempo, fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é "melhor" em aramaico.

Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro, e caprichou nas suas formas, e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.

Zeus teria arrancado a mulher de sua própria cabeça.

Alguns povos nórdicos cultivam o mito da Grande Ursa Olga, origem de todas as mulheres do mundo, o que explica o fato das mulheres se enrolarem periodicamente em pêlos de animais, cedendo a um incontrolável impulso atávico, nem que seja só para experimentar, na loja, e depois quase desmaiar com o preço.

Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.

No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono. E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.

Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica. Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo, e é o descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual - e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.

É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos. A minha mãe, não!

Uma das teses mais aceitáveis sobre o papel da mulher na evolução do homem é a de que o primeiro encontro entre os dois se deu no período paleolítico, quando um homo-sapiens, mas não muito, chamado, possivelmente, Ugh, saiu para caçar e avistou, sentado numa pedra penteando os cabelos, um ser que lhe provocou o seguinte pensamento, em linguagem de hoje: "Isso é que é mulher e não aquilo que tenho na caverna".

Ugh aproximou-se da mulher e, naquele seu jeitão, deu a entender que queria procriar com ela. "Agh maakgromgrom", ou coisa parecida. A mulher olhou-o de cima a baixo e desatou a rir.

É preciso lembrar que Ugh, embora fosse até bem apessoado pelos padrões da época, era pouco mais do que um animal aos olhos da mulher. Tinha a testa estreita e as mandíbulas pronunciadas e usava gordura de mamute nos cabelos.

A mulher disse alguma coisa como "Você não se enxerga, não?" e afastou-se, enojada, deixando Ugh desolado. Antes dela desaparecer por completo, Ugh ainda gritou: "Espera uns 10 mil anos pra você ver!", e de volta à caverna exortou seus companheiros a aprimorarem o processo evolutivo.

Desde então, o objetivo da evolução do homem foi o de proporcionar um par à altura para a mulher, para que, vendo o casal, ninguém dissesse que ela só saía com ele pelo dinheiro, ou para espantar assaltantes.

Se não fosse por aquele encontro fortuito em alguma planície do mundo primitivo, o homem ainda seria o mesmo troglodita desleixado e sem ambição, interessado apenas em caçar e catar seus piolhos, e um fracasso social.

Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação? Inclino-me para a tese da origem extraterrena. A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta.

Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo. Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar.

Têm uma lógica completamente diferente da nossa. Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas e fazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.

Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como "ioink, ioink" que nos deixam arrepiados e sem argumentos. Claramente combinaram isto.

Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra. É o que fazem quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir. Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.

E têm seus golpes baixos. Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas. Meu Deus, algumas até sardas no nariz. Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso! E as armas químicas - perfumes, loções, cremes. São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos? Breve dominarão o mundo. Breve saberemos o que elas querem.

Se depois de sair este artigo eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, como um sorriso, minha tese está certa. Se nada me acontecer, é sinal de que a tese está certa, mas elas não temem mais o desmascaramento. O que elas querem, afinal?

Se a mulher realmente veio ao mundo para inspirar o homem a melhorar e ser digno dela, pode ter chegado à conclusão de que falhou, que este velho guerreiro nunca tomará jeito. Continuaremos a ser mulheres com defeito, uma experiência menor num planeta inferior. O que sugere a possibilidade de que, assim como veio, a mulher está pronta a partir, desiludida conosco.

E se for isso que elas conspiram nos banheiros? A retirada? Seríamos abandonados à nossa própria estupidez. Elas levariam as suas filhas e nos deixariam com caras de Ugh. Posso ver o fim da nossa espécie. Nossos melhores cientistas abandonando tudo e se dedicando a intermináveis testes com a costela, depois de desistir da mulher sintética. Tentando recriar a mágica da criação. Uma mulher, qualquer mulher, de qualquer jeito. Prometemos que desta vez não as decepcionaremos. Uma mulher! Como é que se faz uma mulher?